quarta-feira, 21 de julho de 2010

Artesãos pataxós buscam novos mercados como empreendedores individuais

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Formalizados e autorizados a emitir nota fiscal, índios no sul da Bahia podem fornecer para grandes lojas

Débora Vicentini

Debora Vicentini

José Roberto de Jesus, presidente da Cooperativa de Artesanato Pataxó, é um dos defensores do programa

Salvador
- O artesanato pataxó representa um dos principais veículos de afirmação cultural e geração de renda para a comunidade indígena do sul da Bahia, mas os artesãos não querem mais apenas atrair turistas com seu trabalho: querem se profissionalizar cada vez mais e conquistar novos mercados.

Para isso, encontraram no programa Empreendedor Individual a ferramenta ideal. O local onde se realizou a primeira missa no Brasil, no município de Santa Cruz Cabrália, hoje abriga também a maior entre as aldeias pataxós: a de Coroa Vermelha. Criada no início da década de 1970, hoje se configura no principal pólo de comercialização artesanal da etnia pataxó.

“É uma aldeia indígena moderna, formada por casas e ruas pavimentadas, representativa do papel desempenhado por seus moradores no movimento de resistência cultural indígena”, explica o gestor de artesanato do Sebrae Bahia, Enivaldo Piloto, que conduziu várias oficinas de capacitação voltadas aos índios artesãos. Daí para muitos se tornarem empreendedores individuais foi um pulo.

Foi o caso de João da Conceição dos Santos, 55 anos, artesão há quase 30. Colheres e conchas de coco e petisqueiras de madeira são sua especialidade. “Faço cerca de 30 peças diferentes. Adoro a minha profissão”, relata, com orgulho. Ele se tornou um empreendedor individual porque estava encontrando dificuldades para vender seus produtos a lojas grandes, fora da Costa do Descobrimento, já que não podia fornecer nota fiscal. João fabrica suas peças numa oficina caseira nos fundos da própria casa. Dos cinco filhos homens, três trabalham com ele. “É uma tradição que vai passando de pai para filho, e da qual temos muito orgulho”, ressalta.

Artesão há 20 anos, Moacir Alves, 38, é especialista em arco e flecha. A vontade de crescer foi o principal motivo para a adesão ao Empreendedor Individual (EI). Dono de uma loja no Shopping Indígena Pataxó desde 2000, só agora ele trabalha dentro da legalidade. Tanto que não apenas vende suas próprias peças, mas também o artesanato produzido por vários colegas que não têm um ponto próprio.

O filho do pajé Itambé, Antonio Matos, 37, já nem lembra mais quando começou a fazer artesanato. “Foi há 30 anos ou mais, porque eu era criança quando comecei a produzir”, lembra o artesão, que também aderiu ao Empreendedor Individual.

A comunidade indígena de Coroa Vermelha só agora tem o primeiro contato com os benefícios do EI. Mas muito do sucesso e adesão ao programa lá é mérito da Cooperativa de Artesanato Pataxó, cujo presidente, José Roberto de Jesus, é um dos mais entusiasmados defensores do programa. “Dou a maior força”, afirma ele, que abriu seu ponto no comércio indígena já totalmente legalizado.

“Eu incentivo os associados da cooperativa porque, aderindo ao EI, ele terão mais acesso ao mercado para comprar matéria-prima e revender suas peças para lojas de fora”, explica. “A gente fez uma campanha aqui e deu muita gente na reunião, e a maioria prometeu aderir ao EI. Queremos que todos da cooperativa sejam legalizados e também os outros artesãos que não fazem parte dela”, resume.

Os pataxós são mestres em novas artes que valorizam o sentido de pertencimento do seu povo, do orgulho de ser índio. Sementes, cocos de palmeiras nativas como tucum, pati e piaçava são empregados na produção de adornos para o corpo e objetos utilitários que alcançaram qualidade ímpar, destacando-os e representando-os perante a produção de outras etnias.

De acordo com Enivaldo Piloto, as oficinas para o aperfeiçoamento da atividade artesanal da aldeia realizadas pelo Sebrae Bahia permitiram a elaboração de um plano de trabalho compreendendo a formulação de estratégias coerentes que revelassem a riqueza e a importância dos artesãos na cultura local, com base na sua articulação e na organização da atividade na região.

Os produtos artesanais de Coroa Vermelha são autênticas peças da criatividade do povo pataxó. Tanto que os artesãos, junto com outros da Costa do Descobrimento, se preparam para uma exposição em Salvador, ainda este ano. Eles querem mostrar os resultados de dois anos de capacitações do Sebrae e que serão apresentados num livro de edição luxuosa que será lançado junto com a exposição.

Serviço:
Sebrae na Bahia – (71) 3320-4300
Central de Relacionamento Sebrae – 0800-570-0800

Fonte: Agência Sebrae

 

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